terça-feira, agosto 07, 2007

Escrever é extravasar!

ISTO
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo.
Não.Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

(Isto - Fernando Pessoa)

Amo Fernando Pessoa! Desde criança, desde que li “Isto” e tentei entender como ele dizia dissociar a escrita do que sentia. Como? Era diferente de tudo o que eu entendia por poesia.
Passei dias tentando achar sentido pra tão completo desprendimento. Até que cheguei à conclusão de que “o poeta é um fingidor”. Aquelas palavras eram fruto de uma emoção momentânea. E pensei que ele tinha alcançado o seu objetivo. Havia me feito sentir aquelas palavras. E como eu havia sentido tudo aquilo!!! Aquelas palavras me instigaram de modo que se eu estivesse diante dele, tentaria provar que era impossível não traduzir sentimento daquilo.
Para mim, as palavras são como o pincel na mão de uma criança.
Escrever é deixar a criança que há em si falar o que pensa e o que sente.
Escrever é extravasar o que você sente, ainda que você não tenha plena consciência daquilo, é traduzir aquela inquietação da alma.
Escrever é deixar que as mãos traduzam o que te faz feliz, o que te faz triste, o que te toca.
Escrever é defender idéias, conceitos, valores intrínsecos ao seu ser e, de repente, descobrir que partilha estes valores com outras pessoas.
Escrever é descobrir que você não é sozinho.
Como escrever sem deixar parte de si no que é escrito?
Como usar apenas a imaginação e dissocia-la do que se sente?
A escrita é o fruto de uma emoção, ou de um momento de reflexão... é algo “de dentro para fora”.
As palavras compõem o que a mente e o coração tentam desenhar.

Sentir? Sintamos nós e sinta quem lê!

Nenhum comentário: